Com informações: Quem / Foto: Divulgação
Maitê Proença não teve receio de revistar seus tropeços e erros desde a infância até os dias de hoje para escrever a peça autoral O Pior de Mim. O espetáculo, com direção de Rodrigo Portella, surgiu justamente para fazer um contraponto a este atual momento em que as pessoas querem imprimir uma vida perfeita e cancelam quem não trilha o mesmo caminho ou comete erros.
“Todos são bem-sucedidos, ricamente vestidos e seguros de si, sempre politicamente corretos, jamais fazem uma contradição, rodeados de amigos… As famílias são coloridas, risonhas e estão sempre em harmonia. Ninguém é solitário! Resolvi mostrar onde errei terrivelmente, onde fiquei infeliz, insegura e triste, onde me machuquei e porque, onde fui desagradável sem sequer perceber… Nunca é fácil olhar pra dentro e lidar de verdade com o que está ali. Mas é a única forma da gente se transformar e seguir adiante. Caso contrário, a vida vira um apontar de dedos, numa repetição sem fim”, explica ela, sobre o espetáculo, que está em cartaz até o final de maio na plataforma Sympla.
Isso não isenta a atriz de também usar seus filtros nas redes sociais. Em seu Instagram, no qual é seguida por mais de meio milhão de pessoas, Maitê assume ser adepta dos mais leves. Aos 63 anos, ela confessa que não gosta das marcas de idade e que tenta reverter o envelhecimento com princípios da medicina ayurveda, que tem como foco a harmonia entre corpo, mente e alma.
“Muitas vezes uso filtros simples que suavizam, mas não subtraem. Há quem diga que a beleza é fabricada, artificial. Eu mesma não gosto muito das marcas da idade, nem das consequências dos acidentes de carro, cavalo, bicicleta, e outros tantos que me causam dores pelo corpo. Eu me trato com ayurveda e muitas vezes sinto que estou desacelerando o processo ou andando no sentido contrário. Quando estou muito aplicada, é impressionante ver o brilho que a saúde mente-corpo-espírito pode trazer, revertendo mesmo o processo do envelhecimento. E isso é o que ficará para além das rugas inevitáveis. Seguirei nesse caminho, independentemente do que digam as pessoas de índole ruim.”
É desta forma que ela consegue manter a mente sã mesmo nos períodos de mais solidão, como este da pandemia. O bom humor também torna tudo mais leve. Solteira, recentemente Maitê até brincou em sua rede social que procurava por um homem que soubesse velejar.
“Nenhum dos candidatos sabia velejar (risos). Me sinto solitária mas vou dando meu jeito. Busco os ensinamentos dos sábios, tento praticar o que eles ensinam, respiro, me movimento, faço exercícios, ioga, alongamento, me alimento com sensatez… Tento me entender com quem quero bem, fujo da discórdia – antes eu gostava -, leio, danço, canto mesmo sem saber a letra. E quando mesmo assim tudo vai mal, penso, ‘E daí?’. Uma hora passa”, conta.
Quais foram os desafios de produzir um espetáculo na pandemia e depois de apresentar um monólogo online sem a plateia?
O mais difícil foi ensaiar pelo computador com um diretor que estava no interior de Alagoas, com uma internet capenga, e eu da sala da minha casa com um texto inédito que seria apresentado no palco de um teatro vazio. Mas a plateia sem ninguém foi complicado. Houve um período em que autorizaram com público reduzido, e aquilo mudou completamente o espetáculo, de um dia pro outro. A presença do público, realmente é fundamental.
No texto você divide um episódio muito triste na sua vida, ao falar do assassinato de sua mãe pelo seu pai. Como esse momento te impactou na sua relação com o mundo e com o amor?
Eu não destrincho nenhum episódio trágico, quem faz isso a toda hora é a imprensa, eu nem preciso. Na peça passo por esses acontecimentos pra explicar as emoções, as dores e armadilhas que os traumas constroem pelo caminho. E de como a gente passa a vida se defendendo com escudos, como a gente se recusa a olhar, como se rodeia de desculpas e adoece por isso. Falo de mim pra falar de todos nós, porque nos mecanismos de defesa, somos todos muito parecidos. E mostro como foi transformador na hora em que consegui, finalmente, depois de décadas, fazer diferente. Como a vida ficou mais verdadeira, e por isso, mais leve.
Quais são suas crises e inseguranças pessoais aos 63 anos?
Você vai precisar ver a peça pra saber dos meus segredos. Estão todos lá escancarados. A peça está em cartaz online numa versão que fiz este ano de minha casa, mais íntima ainda do que aquela apresentada no palco do Teatro Petra Gold em 2020.
Aprendeu ou descobriu alguma paixão nesta pandemia? A que dedica seu tempo livre em casa?
Paixão, não. Mas entendi que quem tem o privilégio de ter um teto, comida e saúde tem a obrigação de correr atrás da alegria. Todo mundo já está suficientemente atolado nessa desgraça comum da Covid, não precisa ser lembrado a toda hora. Deixemos isso para os noticiários e vamos tentar espalhar bem-estar. É difícil, mas com treino, é possível. Parece romântico, mas não é! A alegria também contamina.
Você se tornou avó na pandemia. Como é esta sua versão e como foi a experiência de ter alguém nascendo em um período de tantas mortes?
Fiquei preocupada na gravidez, mas confiei nas escolhas que Maria e seu marido fizeram. Felizmente, Manuela e Maria atravessaram o parto com saúde e se mantêm assim. Mas estamos todos muito isolados em função disso tudo também. É uma imposição dos tempos, não há o que fazer.
A pandemia tem levado muitas pessoas queridas, colegas, amigos… Como é a sua relação com a morte? Teve medo ou ainda tem?
Fico indignada porque não precisaria ser assim. Estamos no país mais mal administrado do mundo, com o volante na mão de um homem doente, insensível e maldoso. Não tenho medo da morte, mas sinto horror em ver tanta gente sofrendo com o descaso.O que deseja para o seu futuro?
Paz, criatividade, entusiasmo, amigos e saúde pra ver minha filha, netas e netos crescerem.