Primeiro depoente na CPI da Covid, Luiz Henrique Mandetta deve detalhar os sucessivos embates com o Planalto na fase inicial da pandemia, até a demissão. Governistas tentarão apontar falhas na gestão do ex-ministro e politização com vistas para 2022
A testemunha que inicia os depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia é também a principal figura que promete escancarar as divergências frontais com o presidente da República Jair Bolsonaro no enfrentamento à crise de saúde provocada pela covid-19. O Canal na Rede no Youtube está transmitindo a reunião.
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta tem nas mãos um roteiro pronto para apresentar aos senadores e, nos últimos dias, se concentrou em estudá-lo e se preparar, também, para retrucar as ofensivas esperadas por parte da base governista.
Abatido pelo negacionismo do Palácio do Planalto, Mandetta tem potencial para provocar sérios danos políticos ao governo Bolsonaro. Médico com carreira política e com planos eleitorais para 2022, Mandetta deve oferecer fartos subsídios para a oposição, maioria na composição da CPI. Como antecipado no livro Um paciente chamado Brasil — os bastidores da luta contra o coronavírus, que conta os embates entre Mandetta e o presidente da República, são esperadas revelações de negligência por parte do mandatário em relação à pandemia.
A narrativa que distanciou Bolsonaro do então ministro tem como ponto de partida o fatídico 15 de março de 2020, quando o presidente descumpriu as orientações expressas de seu gestor da Saúde e cumprimentou, sem máscara e com direito a selfies, apoiadores que foram às ruas em manifestações pró-governo. À época, Mandetta procurou não criticar abertamente a conduta do mandatário. Ao invés disso, juntou estudos e dados para convencer o chefe sobre a gravidade da pandemia. Apontou que, se nada fosse feito, o país chegaria a 200 mil mortos por covid. Hoje, o Brasil conta mais que o dobro dessa previsão.
Na perspectiva de Mandetta, narrada no livro e possivelmente abordada no depoimento de hoje à CPI, o presidente da República estava menos preocupado com o cenário de guerra que se apresentava – o ex-ministro mencionou caminhões do Exército a carregar corpos das vítimas — e mais incomodado com um eventual alinhamento do Ministério da Saúde com os governadores, particularmente com o adversário João Doria (PSDB-SP), em São Paulo.
Além desse aspecto, o livro aborda a recusa do presidente quanto ao uso máscaras e a promoção de medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Desta vez, é esperado que Mandetta traga documentos e cite nomes que reforcem a tese, o que promete direcionar as próximas oitivas.