‘Ainda não dá para fazer o baile de queima das máscaras’, diz Jamal Suleiman. Governo de São Paulo estima que mais de 500 mil pessoas não retornaram para a segunda dose no estado, e fará ‘dia D’ de vacinação neste sábado (5).
Equipe de saúde cuida de paciente internado com Covid-19 na UTI do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, em foto do dia 17 de março. — Foto: Miguel Schincariol / AFP
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na Zona Oeste de São Paulo, tem observado um aumento no número de internações de pacientes com Covid-19 que já tomaram a primeira dose da vacina contra a doença, mas não retornaram para o reforço com a segunda dose.
De acordo com o médico infectologista Jamal Suleiman, os dados completos ainda estão sendo compilados pelo hospital – que é referência no tratamento contra a Covid -, mas já é possível observar que as pessoas estão relaxando nas medidas de proteção após tomarem a primeira dose.
“O que tem acontecido é que as pessoas começaram a se sentir seguras tomando uma dose só. E acabam se expondo. E isso, independente da vacina que tomaram. O indivíduo toma a vacina e baixa a guarda”, afirmou Suleiman ao G1.
Todas as vacinas disponíveis no Plano Nacional de Imunização (PNI) possuem esquema vacinal em duas doses. Cientistas estimam que a proteção é mais eficiente duas semanas após a segunda aplicação.
Mas, mesmo após isso, a orientação é que as pessoas mantenham medidas como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social. Nenhuma vacina é capaz de proteger totalmente contra a doença, e a proteção coletiva só é alcançada depois que uma certa porcentagem de toda a população tenha recebido as duas doses.
“Já está chamando a nossa atenção para um fenômeno que não é bom. Ainda não foi tabulado, mas já nos apontam esses casos. Estamos capturando os dados com a equipe do setor de vigilância para ter informações mais precisas de quem foi internado já tendo tomado a primeira dose”, diz o infectologista.
O médico alerta que, embora uma das funções da vacina seja diminuir a chance de uma pessoa desenvolver casos graves da doença, ainda existe a possibilidade de que ela seja internada.
“Se você toma a vacina e baixa os cuidados, todo o discurso para baixar a demanda na rede de saúde não se aplica. Sim, a vacina reduz a chance de ter a forma grave da doença, mas ainda pode ficar doente. E enquanto a gente não reduzir a circulação do vírus e criar esse cinturão de proteção, não é hora de relaxar.”
Jamal Suleiman, médico infectologistas do Instituto Emílio Ribas. — Foto: Reprodução/G1
Cinturão de proteção
Suleiman também citou no interior de São Paulo, onde toda a população adulta apta para receber a vacina foi imunizada com a Coronavac.
“Temos que fazer o serviço completo e com as duas doses para que todos tenhamos segurança. Serrana mostra isso muito claro. Então não é só você. Vacina é coletivo”, diz Suleiman.
O estudo do Butantan apontou que a vacinação de adultos criou um “cinturão de proteção” que beneficiou crianças e adolescentes que ainda não podem receber as doses.
“A gente não está em Serrana, a gente ainda está muito longe de ter o cinturão de proteção. Ainda não dá para fazer o baile de queima das máscaras.”